Sempre que um cliente me procura, sinto uma alegria ao abrir o texto, porque sei que tenho uma preciosidade aguardando para ser lida e revisada. A pessoa que termina de escrever ou que está finalizando a escrita, quando procura uma revisora, está tão envolvida com o texto que já não consegue, e muitas vezes não quer mais, ver se existem e quais são as lacunas, repetições, incongruências e erros gramaticais e ortográficos. Sem falar na necessidade de formatação. Por isso mesmo, busca um revisor.
Ao abrir o arquivo, sei que entrarei em contato com ideias e conceitos novos para mim. Quero entender o que esse pesquisador, estudante, escritor, autor tem a dizer. Sou uma das etapas antes de esse texto chegar ao público, ao seu público-alvo, que talvez seja uma banca examinadora, mas que pode ser bem mais amplo.
Um texto pede um leitor, um texto é comunicação, e eu gosto de pensar que serei, muitas vezes, uma das suas primeiras leitoras. A partir desse lugar, de curiosidade e de encantamento por ideias e conceitos, me abro para o conteúdo que chega. À medida que leio, colocando em prática as técnicas de revisão, vou descobrindo esse novo olhar, e ao mesmo tempo que descubro, tenho a missão de adequá-lo ao seu estilo e à sua finalidade, e deixá-lo claro o suficiente para a sua mensagem ser entregue sem ruído.
Desde a primeira fogueira até a luz das nossas telas modernas, queremos encontrar o outro, estamos em relação, e buscamos nos comunicar.
Gosto de pensar nisso tudo como uma missão: a de ser um elo na comunicação. Não estou sozinha nessa missão. Desde as primeiras fogueiras, estamos nos comunicando. Se não havia palavras, havia gestos, olhares, toques e sentimentos. Desde a primeira fogueira até a luz das nossas telas modernas, queremos encontrar o outro, estamos em relação, e buscamos nos comunicar. Nesse percurso, a palavra falada, que contava as histórias de forma oral, assim como a palavra escrita nas primeiras tabuletas de argila ou no papiro oriundo do junco de mesmo nome, são meios hábeis para esse fim.
Talvez o estudante que precise apresentar o seu trabalho de conclusão de curso ou a sua tese de doutorado, e o escritor que quer publicar seu texto, não estejam preocupados com essa longa cadeia de contadores de histórias. Quem sabe só queiram concluir o curso, o que já é bastante louvável. Não é preciso ter consciência de toda essa história desde a primeira fogueira para escrever. Possivelmente, aqueles homens e mulheres em volta do fogo não tinham consciência do símbolo que até hoje permeia o nosso imaginário.
Ao revisar, posso também esquecer de tudo isso. No entanto, isso ainda é a nossa essência, e permeia todo e qualquer texto, como agora mesmo enquanto pressiono as teclas para criar esse conteúdo. Tenho vontade de ir corrigindo o que escrevo “errado”, porque havia uma intenção que talvez não tenha sido alcançada, os dedos não são tão rápidos quanto o pensamento.
Quando a pessoa me entrega seu texto, ela sabe que algo pode ser melhorado, que ela esteve tão ocupada com conceitos e ideias que precisa que o outro, que circunda a fogueira com ela, leia para apontar as mudanças necessárias para ficar mais claro, coeso, coerente e adequado. As ideias estão ali, os conceitos estão ali. Se fosse para o mundo sem revisão, sem uma segunda leitora, seria entendido? É provável, mas demandaria algum esforço, e as lacunas não preenchidas seriam solucionadas pelo leitor atento.
O destinatário sempre participará do texto. No entanto, o escritor pode dar o máximo de si para que essa participação seja no sentido de levar adiante a conversa e não de desvendar o que queria ser dito. O que queria ser dito deve estar dito, dentro do possível. Uma revisora tem o papel de se certificar de o que queria, ou precisava ser dito, esteja dito de forma clara, coesa, coerente e adequada ao estilo do texto.
E, ao devolver o texto para o cliente, me alegro de novo, ao ver que o autor o recebe com renovada disposição. Ele vê que as ideias, os conceitos e a sua criatividade estão ali, tal como imaginou que deveriam ser levados às pessoas, nessa conversa, que se já não é mais em volta do calor da fogueira, ainda assim faz brilhar a fagulha da comunicação entre quem escreve e quem lê.
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